Recrutamento para o Retalho na Era do Pós-Currículo

A par com a preocupação em atrair profissionais mais qualificados para o retalho e assim tornar este sector mais apelativo, está a preocupação em encontrar os melhores profissionais numa era em que os currículos já pouco falam por si.

Segundo a revista HR Technologist 1, são cada vez mais as empresas que se estão a afastar do modelo clássico das contratações através do currículo. Estas empresas têm por base a refuta a currículos fraudulentos ou currículos mal construídos que são pouco claros no que toca a valências profissionais e, sobretudo, valências pessoais/sociais. Como exemplo estão alguns dos gigantes da tecnologia, como a Tesla e o LinkedIn, que em vez de filtrar uma lista carregada de experiências profissionais e diplomas académicos, focam-se nas capacidades cognitivas e emocionais de cada um.

É nas equipas de loja onde existe um maior desperdício de potencial humano, muitas vezes devido à má construção do currículo em conjunto com o pouco tempo que quem recruta tem para analisá-lo. Outro exemplo tem que ver com as valências académicas que muitas vezes filtram cargos de gestão mais elevados e onde não existe oportunidade para mostrar que podemos ir além dos títulos conseguidos.

Tornar a paixão num fator determinante no recrutamento em Retalho (em vez de apenas qualificações académicas ou experiência) pode ajudar a garantir que apenas os candidatos realmente interessados ​​neste sector integrem a sua organização, reduzindo o risco de rotatividade e turnover.  Além disso, este tipo de profissionais são mais propensos a ser leais e comprometidos, levando a um melhor desempenho e maior produtividade.

No fundo, não desvalorizando todos os profissionais habilitados academicamente e com ótimas experiências passadas,  as empresas têm de se adaptar num mercado onde os recursos humanos/potencial humano se está a tornar cada vez mais escasso, principalmente para o Retalho.

Tenho vários exemplos que espelham o que acima foi mencionado, porém, partilho um dos que mais me marcou até hoje. Para um dos poucos projetos de Sales Assistant que desenvolvi (que conforme indiquei são os mais propícios ao desperdício de potencial humano), encontrei um currículo completamente desformado, com datas e acontecimentos trocados, que se fazia acompanhar de uma fotografia pouco profissional. Tendo por base os parâmetros de imagem, profissionalismo e rigor exigidos pela marca para a qual recrutava, hesitei em contactar aquele currículo para uma entrevista presencial, mas quando o fiz tive a certeza de que teria feito uma boa aposta. A imagem continuava pouco profissional, é um facto, mas nada como explicar um pouco da história da marca e do conceito formal inerente ao seu produto para que os olhos, que já brilhavam com a possibilidade de poder abraçar esta oportunidade, me respondessem que se adaptariam com toda a facilidade pois a vontade de entrar no mundo do luxo era imensa. Também construímos um novo currículo juntos, com todos os pormenores detalhados e experiências ordenadas. O que é certo é que, hoje, passados já quase três anos deste acontecimento, este candidato, que poderíamos facilmente ter ignorado pelo currículo, é hoje Store Manager dessa mesma marca, por mérito próprio, dadas as suas valências inigualáveis de venda personalizada e paixão pelo produto.  Hoje em dia, lidera uma equipa de trinta pessoas e forma cada vez mais novos talentos, muitos deles sem antes terem tido qualquer experiência profissional.

O trabalho dos Consultores de Recrutamento e Selecção torna-se assim fulcral na avaliação deste tipo de características pessoais que obrigam a uma maior gestão do tempo de cada processo de recrutamento existente. Quando falamos em Sales Assistants, falamos igualmente em Store Managers ou Directors, nem sempre o melhor currículo corresponde à melhor pessoa nem ao candidato mais apto a integrar o nosso negocio e a nossa equipa.

Num mercado exímio no que toca à transformação diária e rápida adaptação, um mau recrutamento não só se reflete na perda de tempo, mas também na perda de faturação e, em muitos casos, de cota de mercado para a concorrência.

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