Mulher trabalha no notebook com cachorro no colo em um escritório em casa.

Estarão os colaboradores a liderar a mudança rumo a um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional? Parece que sim. A flexibilidade no trabalho é uma das mais claras tendências decorrentes da pandemia, e em parte alguma isso é mais verdade do que nunca em Portugal. Deixou de ser um mero benefício e passou a ser uma prioridade para quem procura trabalho.

Este sentimento é revelado no nosso relatório Talent Trends 2024, um inquérito global exaustivo a cerca de 50.000 profissionais qualificados, realizado pelo PageGroup. O estudo anual mostra que as expectativas em relação a um horário de trabalho flexível são maiores do que no ano passado, apesar de as empresas exigirem cada vez mais o regresso dos colaboradores ao escritório.

O que é o trabalho flexível? 

O trabalho flexível no trabalho abrange um conjunto de acordos que dão aos colaboradores um maior controlo sobre os seus horários e locais de trabalho, ajudando a promover um equilíbrio entre vida pessoal e profissional mais saudável e um maior bem-estar. Pode incluir opções como o trabalho remoto, a semana de trabalho comprimida, o regime de part-time ou o job sharing.

As empresas ganham com a maior satisfação dos colaboradores, a maior produtividade, o menor absentismo e as maiores taxas de retenção. As despesas gerais também diminuem, se uma parte da equipa trabalhar todos os dias remotamente, a empresa vai precisar de menos espaço físico, e a menor rotatividade de pessoal vai reduzir os custos com o recrutamento e a formação. O trabalho remoto dá-lhe ainda acesso a talentos globais altamente qualificados.

A importância da flexibilidade no trabalho em Portugal

Os números são claros. Dos 1218 profissionais que responderam ao inquérito em Portugal:

  • Mais de metade (60%) rejeitaria uma promoção em prol do seu bem-estar. Esta tendência é especialmente acentuada nos Países Baixos, no Reino Unido e na Suíça.
  • 26% afirmam que a flexibilidade pesa significativamente na escolha de um emprego, classificando-a como o segundo fator mais importante de todos.
  • Quase metade (43%) já trabalha em regimes híbridos, com uns impressionantes 7 em cada 10 profissionais austríacos e suíços a beneficiar deste modelo.

O escritório está a voltar, mas nem todos estão satisfeitos com esse regresso. 3 em cada 10 colaboradores passam hoje mais tempo no escritório do que há um ano, geralmente devido a normas de empresa mais rigorosas. É importante transmitir às empresas que profissionais obrigados a regressar ao escritório têm maior propensão para estar ativamente à procura de trabalho e infelizes com o seu atual emprego.

No atual mercado competitivo, as opções de trabalho flexível são essenciais para atrair e reter excelentes colaboradores. Os profissionais exigem flexibilidade, e as empresas que não se adaptarem vão ficar para trás. A flexibilidade é o segredo para o sucesso das empresas no futuro. 


Estratégias eficazes para as empresas promoverem a flexibilidade no trabalho

O verdadeiro trabalho flexível significa compreender que os colaboradores não são todos iguais e, como tal, também não têm necessidades iguais. Trata-se de oferecer opções, desde um horário flexível, passando pelo job sharing (trabalho partilhado), até acordos remotos ou híbridos. Esta abordagem personalizada aumenta a satisfação profissional e ajuda-o a criar um ambiente de trabalho mais diversificado e inclusivo.

Por exemplo, um pai/mãe pode valorizar o trabalho flexível para gerir melhor o ir levar ou buscar os filhos à escola, ao passo que outro colaborador pode preferir uma semana de trabalho comprimida. As opções de trabalho remoto podem abrir portas a quem tem responsabilidades de prestação de cuidados familiares, a quem enfrenta longos trajetos casa-trabalho e trabalho-casa ou a quem simplesmente trabalha melhor num ambiente diferente de um escritório tradicional.

Claro que as empresas têm as suas prioridades. Então como é que pode conciliar as necessidades dos profissionais com as metas organizacionais?

1. Crie políticas adaptáveis para a sua equipa

Dar liberdade de escolha aos seus colaboradores ajuda-os a adaptar o cronograma de trabalho às suas necessidades individuais, conduzindo, em última instância, a uma maior satisfação profissional. Eis alguns exemplos de acordos de trabalho flexível que pode implementar:

  • Trabalho remoto: Também conhecido como teletrabalho, permite que um colaborador trabalhe fora do escritório, seja em part-time ou full-time. Enquanto algumas empresas restringem o trabalho remoto à mesma cidade, outras consideram benéfico consentir que os colaboradores trabalhem no estrangeiro durante longos períodos. Isso pode aumentar a motivação e a retenção, ao permitir-lhes viajar ou visitar a família sem gastar dias de férias.
  • Modelo híbrido: Uma combinação de trabalho presencial e remoto. Os dias específicos no escritório podem ser fixos ou flexíveis. Dar aos colaboradores maior controlo sobre a sua agenda de trabalho presencial-remoto pode ajudá-los a gerir melhor os seus compromissos pessoais e a ser mais eficientes no trabalho.
  • Horário flexível: O número de horas de trabalho é fixo, mas os colaboradores têm flexibilidade para definir o seu horário (horas de início e fim). Isso permite-lhes evitar deslocações em hora de ponta, ir a consultas ou trabalhar no período do dia em que são mais produtivos.
  • Semana de trabalho comprimida: Condensar um horário full-time em menos dias, tipicamente permitindo aos colaboradores usufruir de um fim de semana de três dias ou não trabalhar sextas-feiras à tarde. Este acordo pode melhorar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e aumentar a produtividade, pois os colaboradores têm maior motivação para ser mais eficientes, para poderem aproveitar o tempo de folga extra.
  • Job sharing: Permite que dois ou mais colaboradores trabalhem em part-time numa função partilhada. Pode ser uma opção atrativa para pais, cuidadores ou pessoas que tenham voltado a estudar, permitindo-lhes manter uma carreira sem descurar as suas outras responsabilidades.
  • Trabalho em part-time: Normalmente inferior a 30 horas por semana. Lembre-se de que anunciar apenas trabalhos em full-time pode restringir o seu número de talentos e excluir fortes candidatos. Oferecer opções de part-time pode ajudá-lo a atrair e reter uma maior diversidade de talento, incluindo profissionais com filhos, mais velhos ou com problemas de saúde.

2. Promova a adesão dos líderes

Consegue convencer a liderança da sua empresa a adotar o trabalho flexível? Não se limite a dizer-lhes que é a coisa certa a fazer – mostre-lhes. Partilhe histórias de sucesso de organizações semelhantes, destaque potenciais poupanças de custos e saliente os benefícios a longo prazo em termos de recrutamento e retenção.

3. Investigue a concorrência

Se a sua oferta ficar atrás da dos seus concorrentes, terá dificuldade em atrair o melhor talento e arriscará perder os seus melhores colaboradores. Tenha como objetivo ultrapassar (mais do que igualar) os benefícios das outras empresas no seu setor.

4. Disponibilize a tecnologia adequada

Adotar verdadeiramente o trabalho flexível passa por preparar a sua equipa para que consiga trabalhar de forma assíncrona. Invista em ferramentas colaborativas pensadas para este tipo de trabalho, como:

  • Gestão de Projeto: Asana, Trello ou Basecamp
  • Colaboração Visual: Mural, Miro ou Figma
  • Comunicação: Switchboard, Twist ou Slack
  • Partilha e Armazenamento de Ficheiros: Google Workspace, Microsoft 365 ou Dropbox

5. Ofereça um subsídio de trabalho remoto

Este subsídio pode cobrir os custos de montar um escritório em casa (p. ex., cadeira ergonómica, secretária e atualização de computador). Também pode alocar um montante a uma parte da fatura mensal de serviços públicos, telemóvel e internet do colaborador, para compensar a sua maior utilização associada ao trabalho remoto.

6. Realce o valor do tempo passado no escritório

No caso dos modelos híbridos, uma política de trabalho flexível inteligente deve promover o mérito de trabalhar tanto no escritório como remotamente. O nosso estudo Talent Trends 2024 constatou que os profissionais mais jovens valorizam as oportunidades de progressão na carreira associadas à presença física no escritório. Um quarto dos inquiridos na casa dos 20 anos afirma que trabalha hoje mais no escritório do que há um ano para aprender com os colegas, pelo que introduzir oportunidades presenciais, como mentorias ou destacamentos para outros departamentos ou empresas, pode ser um atrativo significativo.

7. Avalie os colaboradores com base nos resultados, não nas horas

Um dos maiores desafios do trabalho flexível é monitorizar o desempenho. Em vez de se preocuparem com o facto de um colaborador remoto poder não estar a trabalhar as 35 ou 40 horas semanais, os managers devem antes focar-se na qualidade do trabalho, nos objetivos dos projetos e na entrega de resultados em tempo útil. É essencial definir objetivos mensuráveis e agendar reuniões virtuais regulares de acompanhamento. Os colaboradores vão sentir que os gestores confiam neles, contribuindo para um maior sentido de autonomia e para uma cultura de trabalho mais positiva.

8. Ofereça apoio aos colaboradores remotos

Os colaboradores que trabalham remotamente podem por vezes sentir-se isolados ou stressados. Os check-ins virtuais também são uma boa oportunidade para gerir o volume de trabalho de cada pessoa e garantir que ninguém está sobrecarregado. Além disso, um Programa de Assistência a Colaboradores (EAP, do inglês Employee Assistance Programme) pode dar aos colaboradores livre acesso a um apoio profissional e confidencial para os ajudar a lidar com problemas pessoais que estejam a afetar o seu desempenho no trabalho, como problemas de saúde mental ou preocupações financeiras.

9. Realize um projeto-piloto de trabalho flexível

Se tem dúvidas sobre o potencial de sucesso da flexibilidade no trabalho na sua organização, faça primeiro um teste. Comece por inquirir os seus colaboradores sobre o que significa flexibilidade no trabalho para eles e quais as opções que gostariam de ter. Depois, vá dando pequenos passos, testando as políticas propostas em uma ou duas equipas e certificando-se de incluir todos os elementos que serão posteriormente implementados em toda a empresa. Este processo pode incluir testar o hot desking, em que os colaboradores escolhem o seu espaço de trabalho por ordem de chegada, ou o hoteling, em que um software especializado lhes permite agendar espaços específicos com antecedência.


Conclusão: a flexibilidade no trabalho melhora o bem-estar dos colaboradores e aumenta a rentabilidade da sua empresa

O trabalho flexível não é apenas uma tendência, é a essencial para ter uma equipa mais feliz, produtiva e comprometida. É uma abordagem que conduz a ideias novas e soluções inovadoras e, em última instância, contribui para o maior sucesso do seu negócio. No atual mercado competitivo, as empresas que priorizarem a flexibilidade irão destacar-se, atraindo e retendo o melhor talento. O futuro do trabalho é flexível. A sua empresa está preparada?

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